terça-feira, 19 de julho de 2011

Uma Joia de Fusca

Na cidade de Joia, se revela a fascinação que o lendário veículo exerce sobre os moradores , uma cidade apaixonada pelo “besouro"

O município de 8 mil habitantes, a 424 quilômetros de Porto Alegre, demonstra ter a maior frota do carro no RS, proporcionalmente à população. Dez minutos no centro e cinco Fuscas passam, rugindo de vaidade a cada seta e curva.
– O Fuca, como o gaúcho diz, sem o s, é a nossa adoração – afirma a advogada Lígia Bernardes.
Agricultores usam o Fusca para o vai e vem da lavoura, jovens empregam o Fusca para conquistar gurias. Em Joia, ele sequer saiu de moda. A cidade é uma Cuba brasileira dos carros antigos, um museu a céu aberto, um túnel no tempo.
– Sempre tem um deles por semana para consertar. Ele forma minha aposentadoria – comenta o mecânico Sani Jorge Goulart, 50 anos.



O carro zero mais vendido no mundo em 1972 e atualmente o usado mais revendido no país é a paixão de Zenir Disott. O gaudério já teve dois deles, e não cansa de sua praticidade. Para andar um pouquinho no modelo verde de 1971 do vizinho, até se oferece para uma boa ação, como levar a filha do compadre, Aline Facin, 25 anos, à rodoviária.
– Não há necessidade de pedir licença, é o carro mais próximo do cavalo em termos de confiança.
Sua vida foi influenciada pelo Fuca.
– Aprendi a dirigir nele, tive a primeira namorada nele, às vezes tinha que abrir o vidro para dar espaço ao amor.
– Fusca vale para quem trabalha e para quem coleciona. É disputado como relíquia. Investe-se mais aparelhando o Fusca do que se gasta comprando um veículo novo – conceitua o comerciante Marion Alves, 48 anos.

Veja o fuscão preto de Joia:

Existe toda uma história de cobiça secreta para garantir a sonhada máquina na garagem. Marion surpreendeu o filho Glauber, 26 anos, no Natal de 2010. Ofereceu um Fuscão preto de presente. O rapaz viajou a trabalho para Panambi, onde é funcionário público concursado. Seu irmão Glauco, 23 anos, ficou o responsável por cuidar do Negrinho. Feito o golpe de estado.
– Vá que um dia Glauber veja meu capricho (lavo a carroceria semanalmente), e me libere o auto para sempre – chantageia.
– Se acontecer, juro que canto na praça a canção de Almir Rogério: Fuscão preto você é feito de aço/ Fez o meu peito em pedaços.
Apesar dos 1m86cm, Glauco entra facilmente no carro:
– Fuca tem um fundo falso.
Sua teoria é de que o Fusca sensibiliza o dono pela humildade e pela aparência terna de besouro, de capô redondo e faróis graúdos parecidos com olhos de órfão.
– É simples e confortável, a manutenção é fácil, não precisa entender de mecânica, ele entrega seu coração sem mistério.
Acostumado a viajar para Ijuí, a 40 quilômetros de Joia, o Fuscão preto não o deixa na mão. Um arame é seu pronto-socorro.
Fonte: Zero Hora

Um comentário:

Clube do Fusca de Áurea disse...

Bah... Jóia de fusca mesmo!!! esses que são valentes!!!
abráss